segunda-feira, outubro 30, 2006

Observações metroviárias


Naquela estação tem um metrô fixo. Proposta de uma pequena empresa para os sem destino. Para quem não sabe onde pousar, para os cansados das chegadas e partidas, para os excêntricos. Um metrô com o mesmo comprimento da estação. Cujas portas se abrem, onde os passageiros tomam os assentos e recebem, através de projeções, imagens corridas de paisagens, bairros felizes, subúrbios idílicos. O metrô tem motores que acionam a trepidação e uma voz que anuncia paragens. É só um pouquinho mais caro que o metrô convencional. Mas já é um grande passo que o metrô não avance um metro.

André Ricardo Aguiar

4 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhoso, André, cumbpre lindamente uma das principais funções da literatura, acho eu: fazer-nos olhar tudo pelo "outro lado", de pontacabeça, envesgando os olhos... Um beijo. MVal

Anônimo disse...

Essa inversão funciona. Lembro uma comédia em que, do ponto de vista de um passageiro vendo estação ir embora, era um trem quem ficava parado. Muito legal!

dade amorim disse...

Muito bom o metrô literário, André. Descobri esse seu novo blog, que bom. um biejo.

Ricardo Mainieri disse...

André :

Vejo perpassar teu texto uma sutil e fina ironia.
Neste metrô imaginário trafegam os sem-nada num roteiro de sonhos.
Tenho um poema, "Subúrbios" que enlaça o tema. Ei-lo :

Subúrbios

Janelas desdentadas
sorrindo
sua tristeza
desfilam
pelos trilhos do trem
suburbano.

Pessoas dormem
rostos restam
atentos
ao pregão do camelô
ativo.

Magra esperança
nos olhos de todos
acompanhando estações
a cidade nunca chega
a felicidade
nosso dia
quando chega?

Um apito
dança no ar
e avisa :
meu coração descarrilou.

Ricardo Mainieri

Abraço.

Ricardo Mainieri