quinta-feira, outubro 26, 2006

Atraso de vida

Quando eu era adulta, quis ter tempo. Um bicho macio e dócil, que me estendesse a patinha sempre que eu pedisse e voltasse conformado para sua gaiola quando eu assim o desejasse.
Gastei anos no adestramento, criei cronômetros de açúcar e chicotes verbais, tracei itinerários e gestuais.
Hoje, dormimos os dois aninhados entre os ponteiros de um relógio cujo ritmo não é ditado por nenhum de nós.

Rosa Amanda Strausz

5 comentários:

Anônimo disse...

Ô, Rosa, só lendo isto foi que eu acabei de entender como é viver e dançar conforme o tempo. Poeta explica melhor do que filósofo! MVal

Anônimo disse...

Totalmente contemporâneo, totalmente bem escrito. Me pegou totalmente na jugular. beijos.

Anônimo disse...

Uma criatura dócil ou arredia, esse tempo. Mas pelo visto, aqui se faz bom uso dele - parece amestrado. Beijo!

Ronaldo Monte disse...

Feliz de quem é íntima do tempo e sabe como dizê-lo. Beijo. Rona.

Anônimo disse...

Fiquei engolfado no tempo sutil ao ler este texto. Um primor! Waldir Pedrosa Amorim