quinta-feira, novembro 02, 2006

Almoço de domingo

A luz da manhã invade o quarto feito um estampido. Cheiro de fruta quente, galinhas mortas, verduras urgentes, peixes que lentamente perdem seu frescor. Caixotes jogados do alto dos caminhões, gritos e a ladainha dos feirantes compõem uma sinfonia nervosa, fundo musical adequado para completar o cenário: é dia de festa.

Clara sai à rua sem nem mesmo tomar café. Cai da cama diretamente para a feira livre. Precisa fazer compras para o almoço. É dia de festa, os sentidos pedem alimento especial.

Percorre as barracas meio nervosamente. Tudo igual: laranja, quiabo, alho, louro, as flores de sempre. Até que enxerga uma barraquinha nova, miúda, cuja estrutura quase não se vê de tão abarrotada de mercadorias. Um pouco de tudo. Berinjelas minúsculas, alfavaca, peixes de cintilação multicolorida, cardamomo, garrafas azuis e verdes, palha de milho, fitas amarelas, louça de brechó, perdizes vivas, favas de baunilha, fumo de rolo, chá de tangerina.

Olha tudo. Embrulha os peixes nas fitas, banha as perdizes com as garrafadas, enche xicrinhas de borda dourada com feijões verdes. Sai dali com a sacola pesada.

Hoje é dia de servir risadas aos convidados.

Rosa Amanda Strausz

2 comentários:

Lady Cronopio disse...

que lindeza!

Anônimo disse...

Com um almoço desse tipo, o sabor da leitura só pode melhorar. Beijo!