Um dia, vi um rapaz e uma moça, de pé, parados, olhos nos olhos.
Muito sério, o nariz quase encostado no da moça, o rapaz dizia:
- A reta é o caminho mais curto entre dois pontos.
- Não gosto de retas, prefiro fios -, sorriu a moça puxando uma mexa do próprio cabelo e cobrindo o rosto com ela.
- Não gosto de fios – resmungou o rapaz. – Prefiro riscos.
E escreveu no chão de terra o nome da moça.
- Não gosto de riscos, prefiro linhas - suspirou a moça acariciando a palma da própria mão com a ponta do dedo.
Enquanto os dois discutiam, o jequitibá e o pé de abóbora continuavam sua caminhada silenciosa e lenta. Um, reto, na direção do céu; outro, sinuoso, em busca do mundo.
Rosa Amanda Strausz
6 comentários:
Comadre: Certas palavras, por sua sonoridade encantatória, têm o poder mágico de me evolver. Jequitibá é uma delas. Além do mais, quando duas pessoas estão enamoradas, como aqui, tudo é possível, sobretudo quando se encontram entre jequitibás e jerimuns. Há o suave tecido narrativo e há o olhar da paixão e das imprevisibilidades conteudísticas. Trocando em miúdos, o blogue de vocês já é um dos meus favoritos. Beijos & abraços.
Retas, fios, linhas, riscos. Quem a lê, Rosa, nos seus códigos sensoriais tem a grata surpresa da concisão sem limites. Esse conto tem mais raízes do que folhas secas. É uma terceira árvore. Beijos!
Excelente a qualidade desse blog. òtimos escritos, gostei muito. Um texto simples e repleto de beleza. Meus parabéns...
Bjus insanos e escarlates
Rosa, li Pipoca, os outros contos, e só posso dizer que o seu texto me emociona profundamente. Ele tem uma qualidade muito próxima da poesia, um contato tênue com o enredo, maximizado pelo uso muito cuidadoso das palavras. Belo, belo, belo. Parabéns.
CLAP! CLAP! CLAP! Coisa mais linda, Rosa. Adorei.
Um beijo.
Tem formigas nos três últimos contos. E um só tamanduá. Tem Rosa e André, mas não tem Rona. Ele fica de fora, roendo, roendo.
Ps. Rosa: mandei meu micro pro conserto e delectaram toda minha lista. Manda um e-mail pr mim.
Rona.
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