segunda-feira, julho 10, 2006

Casa na árvore

Em casa de Florinda, uma porta pensa que é árvore.
A madeira estala algum lamento, ainda que os moradores a usem para entrar ou sair da casa. Depois, quando a azáfama esmorece, quando os afazeres respiram, a porta pousa quieta em seus encaixes. Imóvel, a seiva volta a circular, o ciclo puxa de suas entranhas pequenas raízes, uma folhinha cobre o olho mágico. Mal descobrem o erro – nunca deixar de usar a porta – correm para abri-la. Sem sucesso desta vez. Cansada do entra-e-sai, cuidou de enfiar suas raízes até as fundações da casa. Tranqüila, do outro lado a maçaneta estende-se em forma de galho, à espera de um ninho.

André Ricardo Aguiar

9 comentários:

Anônimo disse...

É nisso que dá poeta se meter a escrever conto: sai lindo, lindo, lindo! André, nunca li nada escrito por você pra não me espantar! dá-lhe invencionice! Quero só ver o que a Rosa vai soltar ai. Maravilhosa essa idéia do blog conjunto... antídoto contra o tédio para os leitores. Beijo da MValéria Rezende

Anônimo disse...

massa andré... boa essa de dar vida a uma porta. e boa a idéia de um blogue assim! beijo

Anônimo disse...

Delicadíssimo e poético,meu querido.Só podia ser do meu poeta amado.Achei extremamente visual e já estou cheia de idéias...beijo meu nêgo.

Anônimo disse...

Que novidade boa este blog, hein poetinha? Estarei muitas vezes espiando por aqui.

Beijos,
Angel Mix

Anônimo disse...

Belo texto inaugural caro andré. Rosa já deve estar vindo por aí. Aguardo. Idéia mais que criativa, essa.

Um abraço e mandem ver.

Barreto

Pedro disse...

Olá André

Gostei muito desse e quero ler muitos mais!

Anônimo disse...

uma árvore-porta é só plantar e esperar crescer, a demora compensa, pois comprar uma semente é bem mais econômico do que pagar por uma porta-porta.

Anônimo disse...

Esse André é capaz de qualquer coisa...

Anônimo disse...

Se a porta-árvore desta casa-blog já é tão lírica e bela, plena de vida e luz, o que esperar de tudo mais? Já imagino um "riso franco de varandas", como disse outro poeta!