Alice ergueu-se, meio acuada. Pediu desculpas e afastou-se. Mas não muito. Continuou olhando a cena de longe. Assim que o gato estremeceu pela última vez, as pessoas começaram a ir embora. E ela voltou. Sabia que estava ali. Ajoelhou-se, esquadrinhou com a ponta dos dedos o pêlo já frio e puxou a idéia prontinha:
“Basta um segundo.”
Apertou o passo, disfarçou o nervosismo e prosseguiu seu passeio. Poucas quadras adiante, um rapaz oferecia um bombom a uma moça sorridente. Mais uma vez Alice se apressou. Sabia que existia uma frase flutuando entre a boca da moça e o chocolate.
Precisava pegá-la antes que os dentes a rasgassem.
Rosa Amanda Strausz
10 comentários:
Será que quando eu crscer vou ser capaz de inventar coisas tão malucas e belas como voc6es inventam?
Uma jóia. Mais uma presse blog belo.
Ah, sem falar, André, na sua orta e nessa Pescaria que eu amo de paixão.
Beijo grande.
Ah, e devidamente linkado tanto no tábua de marés quando no mudança de ventos.
Belo, belo, belo e assustador ao mesmo tempo. Tem uma sombra de ameaça no ar. Ao mesmo tempo é singelo ao mostrar a busca do escritor, que descobre sua matéria-prima espalhada pelo mundo. O que será que h´´a nessas descobertas que assusta tanto a quem não as descobriu? Ih ... estou viajando demais hoje ... hehehe
Imprevisível. e muito interessante. parabéns
Uma idéia feliz passeia neste pequeno conto, uma absurda e engenhosa forma de tratar seres e significados numa mesma dimensão. Não importa a mudança brusca de foco, desde um gato morto a um casal, tendo como testemunha uma Alice (reverberando Carrol) em suas descobertas em mais uma estadia na linguagem plena de cotidianos. As imagens dizem este algo mais que escapa à maioria: um pouco o sentido da arte, retirar em meio às porções o toque levíssimo e vigoroso de uma idéia original.
Bonito, gostoso de ler... Bem Poético. Parabéns!
Minha comadre: Que coisa mais bonita... Um primor. Posso reaproveitá-lo no Balaio? Outra coisa: Isadora adorou o seu livro. Acho que, agora, chegou a minha vez de lê-lo. Beijão.
Moacy, o Balaio não reaproveita textos, mas dá a eles lugar de honra.
um beijo
Bonito e surpreendente como você, minha flor do prado. Beijos.
Rosa, menina, li cinco vezes seguidas! A última em voz alta. Sugiro a todos.
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