quarta-feira, novembro 29, 2006

Yes

O Y era tão nítido que quase podia vê-lo. Como se fosse uma imagem de ressonância magnética do crânio, mas sem imagem nenhuma, só a dor. Um repuxo em três pontos: um em cada têmpora e o último no alto da cabeça. Cordas de uma guitarra tensa que vibrava sem melodia.
Antes mesmo de abrir os olhos, pela manhã, já podia senti-lo, embora fosse impossível determinar sua causa. É só uma dor de cabeça, explicava a quem perguntava o motivo dos óculos escuros.
Um dia, um daqueles dias de Y em aço cravado nos miolos, pensamentos imprestáveis, uma irritação incontida, o médico do serviço de saúde da empresa bocejando entediado:
- Não posso lhe dar mais um dia de licença. Já é o oitavo deste mês. Dor de cabeça, agora, só daqui a uma semana, entendeu?
Fez que sym com a cabeça. Sym com Y.
E retornou à sua mesa.

Rosa Amanda Strausz

Um comentário:

Anônimo disse...

Sympatia de conto, apesar de doer no pobre coitado. Para o leitor, traz alívio e graça. Beijo!