segunda-feira, dezembro 18, 2006

Favela Futebol Clube

Toca aqui, dribla acolá, esses moleques descem o morro. A origem da pelada ninguém sabe: a bola, meio remendada às pressas. Alguns PMs na contramão, mas os meninos não se fazem de rogados. Anjos sem chuteiras, a bola ainda chega a bater num policial. O fardado ri, uma mão no 38, outra num meneio que devolve a bola. O jogo desce o morro, a bola evita uma vidraça, e nesse bem bolado sistema, chegam a um mirante. Do outro lado o morro é fendido por uma grota e só um ronaldinho bem bombado daria um chute, um pé de canhão para alcançar a laje de uma casa onde espera o outro time. A movimentação na pequena área, um deles marca bem a posição, finta e dribla, põe a mira no gatilho dos olhos, toma espaço e solta a canela: a bola descreve um arco – a tensão é de um pênalti – e um que estica os braços e recebe o bolaço no peito. Os dois lados comemoram com tiros. Estamos quites, parecem dizer – a bola é rasgada e do seu ventre saem saquinhos do mais puro pó – o jogo empatado, uma bela partida, 1 x 1.

André Ricardo Aguiar

3 comentários:

Unknown disse...

André :

O conto com o final inesperado.
Ou no caso brasileiro, desfecho que estampa jornais com drogas em roupas íntimas e tráfico de drogas e de influências...
Muito bom o enfoque social.

Abs.

Ricardo Mainieri

Waldir Pedrosa Amorim disse...

O final inesperado, ou quando o imprevisível é previsto pelo autor. Beleza!

Waldir Pedrosa Amorim

Fanzine Episódio Cultural disse...

ANJO NEGRO
Como um relâmpago
Ela entrou em minha vida,
Tão inesperadamente como saiu.

Não me deixou rastros
E nem carta de despedida,
Meu anjo negro retornou às estrelas.

Suas asas cobriram-me,
Seus lábios devolveram-me a vida.
Retirando-me o gosto amargo de viver,
Meu anjo protegeu-me
Pousando em meu coração.

Meu anjo negro retornou às estrelas
Deixando-me órfão
Para abraçar o meu/seu vazio.

Agora sou um prisioneiro sem cela
Que, ao ser despertado pela luz da manhã,
Busca refúgio ao final do dia
À espera do retorno
Que a noite nega-se a permitir.

*Do livro (O ANJO E A TEMPESTADE) do escritor Agamenon Troyan
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